sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Crack, a droga que não forma craques (Archimedes Marques)

Nota do editor: recebi ontem (4-2-2010) um e-mail do Delegado Archimedes Marques, que possui uma coluna no Portal Infonet, onde aborda temas ligados à segurança pública. Na mensagem, ele explica que possui sítio em São Cristóvão e que em suas andanças pelo município, constatou a existência de muitos viciados em crack, uma droga que se expandiu assustadoramente em Sergipe e que há anos atrás só se conhecia a sua comercialização, que é ilegal, no sudeste do Brasil.

O crack é um tema que eu nunca imaginei que abordaria aqui no blog, já que todas as postagens anteriores foram dedicadas a eventos, campanhas e atividades que estão no dia-a-dia de uma cidade histórica, sem discorrer sobre tão grande mal social. Porém, casos desastrosos da relação entre o crack e os seus usuários são relatados constantemente na imprensa, ou vivenciados por algumas famílias e não passam despercebidos.

Há exemplos marcantes aqui mesmo em São Cristóvão, a exemplo de apreensões do crack na região do Grande Rosa Elze, do caso de um jovem de 17 anos, da mesma região, que pediu em momento de lucidez para ser acorrentado e não consumir a droga (destacado em matéria do Portal G1 - clique aqui para ler). No final de outubro de 2009, no dia da ação de limpeza de praias e rios, encontramos nas matas da Bica do Jardim os famosos "cachimbos" para o uso de crack feitos com latas de refrigerante ou cerveja, o que evidenciou a existência de usuários na região.

Em abril de 2009, o jornalista Cláudio Nunes também abordou constantemente o assunto e o Ministério Público promoveu uma manifestação com apoio dos jovens para alertar a sociedade sobre os perigos do crack (clique aqui para ver uma das matérias do blog de Cláudio Nunes). Não deixe também de acompanhar o blog do Delegado Archimedes Marques, do qual reproduzo um dos artigos.

Crack, a droga que não forma craques.

(Archimedes Marques)

Estamos em aguda e profunda crise urbana e social relacionada ao crack, essa droga avassaladora, aniquiladora e mortal que vem fazendo vítimas e mais vítimas diariamente em todo canto do nosso País.

O crack trás a morte em vida do seu usuário, arruína a vida dos seus familiares, aumenta a criminalidade onde se instala, degrada e mata mais do que todas as outras drogas juntas.

De poder sobrenatural o crack pode viciar o usuário já na sua primeira ou segunda experiência e o que vem depois é a tragédia certa. Crack e desgraça são indissociáveis e quase palavras sinônimas. Relatos dos seus usuários e familiares, fatos policias diários e opiniões de especialistas sobre os efeitos e as conseqüências nefastas da droga podem ser resumidos em três palavras tão básicas quanto contundentes: sofrimento, degradação e morte.

A composição química do crack é simplesmente horripilante e estarrecedora. A partir da pasta base das folhas da coca acrescentam-se outros produtos altamente nocivos a qualquer ser vivo, tais como: ácido sulfúrico, querosene ou solvente e a cal virgem, que ao serem processados e misturados se transformam numa pasta endurecida homogênea de cor branco caramelizada onde se concentra mais ou menos 50% de cocaína, ou seja, meio à meio cocaína com os outros produtos altamente nocivos citados. A droga é fumada pura, misturada num cigarro comum ou num cigarro de maconha que recebe a denominação de “bazuca”.

A fumaça altamente tóxica do crack é rapidamente absorvida pela mucosa pulmonar excitando o sistema nervoso, causando inicialmente euforia e aumento de energia ao usuário, com isso advém, a diminuição do sono e do apetite com a conseqüente perda de peso bastante rápida e expressiva.

Logo os efeitos nefastos biológicos aparecem para os seus usuários, tais como: aceleração ou diminuição do ritmo cardíaco, dilação da pupila, elevação ou diminuição da pressão sanguínea, calafrios, náuseas, vômitos, convulsão, parada respiratória, coma ou parada cardíaca, infarto, doença hepática e pulmonar, hipertensão, acidente vascular cerebral (AVC).

Além disso, para os fracos e debilitados usuários sobreviventes, ao longo do uso da droga, há perda dos seus dentes, pois o ácido sulfúrico que faz parte da composição química do produto assim trata de furar, corroer e destruir a sua dentição. O crack também causa a destruição dos neurônios e provoca a degeneração dos músculos do corpo do seu usuário, fenômeno esse conhecido na medicina como rabdomiólise, o que dá aquela aparência esquelética ao indivíduo com ossos da face salientes, pernas e braços finos e costelas aparentes.

O crack é tão perigoso que até o próprio traficante que tem consciência desse perigo, de tal droga não faz uso. Dificilmente e raramente um traficante usa o crack o que não ocorre com os outros tipos de drogas em que muitos deles também as utilizam em consumo próprio.

A disseminação do crack é constante e diariamente prende os menos avisados assim como uma teia de aranha para as suas presas, transformando as suas vítimas em verdadeiros mortos-vivos a perambular pelo submundo da sociedade.

Pesquisando junto às opiniões dos médicos e especialistas em tratamento dos drogados conclui-se que realmente estamos perante uma epidemia, porque há um número explosivo de casos nos últimos três anos. Antes era uma raridade, havia nas unidades hospitalares especializadas 90% de outras dependências e 10% de crack. Hoje há o contrário. É unânime o conceito dos especialistas em afirmarem categoricamente que o crack é uma droga diferente das outras, muito mais severa e contundente. Não há outra droga que produza um declínio físico e mental maior para o viciado quanto o crack.

Segundo estudos realizados por especialistas na área, as dificuldades para o tratamento dos viciados em crack também são imensas, por isso, a grande preocupação das autoridades ligadas ao tema da intensa problemática. É preciso de extrema força de vontade do próprio viciado para poder se livrar desse malefício infernal.

A conscientização e o investimento em massa na área da educação, na prevenção, com aulas, palestras, seminários e um convívio mais profundo e dialogado no seio da sociedade especialmente entre pais e filhos, poderá livrar-nos dessa epidemia. Não podemos achar que a polícia ou a medicina resolverão os problemas, que, muitas vezes, se iniciam nos lares, escolas e outros lugares de convivência, principalmente dos jovens, mais expostos, por vários motivos, à atração do mundo das drogas.

No País do futebol precisamos sempre formar mais e mais competentes e excelentes atletas craques da bola, do esporte e não incompetentes e debilitados cracks desta droga satânica.

Autor: Archimedes Marques (delegado de Policia no Estado de Sergipe. Pós-Graduado em Gestão Estratégica de Segurança Pública pela UFS) – archimedesmarques@infonet.com.br - archimedes-marques@bol.com.br

http://www.infonet.com.br/archimedes/

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