domingo, 24 de janeiro de 2010

À Beira do Paramopama: os Portos em São Cristóvão

Porto São Francisco, século XX (foto: acervo de Lauro Rocha).

São Cristóvão, fundada em 1590, se consolida em seu atual sítio apenas por volta de 1607, no alto do Monte Una e às margens do rio Paramopama. Estes fatores, somados a outros, possibilitaram segurança estratégica, oferta de água e alimentos numa época em que o Brasil era inóspito e hostil aos colonizadores. A cidade, concebida urbanisticamente pelo modelo acropolitano (partes alta e baixa) ganhou o seu belo conjunto arquitetônico e vive até hoje uma íntima relação com o rio Paramopama, consolidada através de seus portos, a exemplo dos Portos da Banca, São Francisco e das Salinas, estes eram os principais, havendo outros.

Abaixo seguem algumas informações sobre estes principais portos antigamente e nos dias de hoje. Há poucas informações sobre estes portos no passado, a principal fonte de informações é o Plano Urbanístico de São Cristóvão, datado de 1980, fruto de pesquisa conduzida pela UFBA, sob orientação do Professor sergipano José Calazans (1915-2001). Outra fonte é a monografia Águas Fluviais e o Ecoturismo em Sergipe: Possibilidades no rio Paramopama, em São Cristóvão, que apresentei como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe (IFS), antigo CEFET-SE.

Porto da Banca (atual Terminal Turístico Ecológico, ou "Catamarã")

Terminal Turístico Ecológico visto a partir do rio Paramopama (foto: Cleverton Silva, 2008).

É pouco conhecida a origem deste porto. Também denominado Porto do Carmo, tem por referência o Convento da Ordem Carmelita. O porto e o Convento são diretamente ligados pela Ladeira Porto da Banca. Na metade do século XIX, era um dos mais movimentados, embora não se tenham notícias precisas a que exatamente se destinava o porto, se era ao comércio, ao transporte de pessoas ou ambos.

Ladeira Porto da Banca, já coberta pelo cimento, abaixo o cruzamento com a estrada do Apicum, a entrada do porto e o rio Paramopama (foto: Cleverton Silva, 2008).

Detalhe do calçamento antigo da Ladeira Porto da Banca (foto: Cleverton Silva, 2008).

Nesta mesma época, a Ladeira Porto da Banca passou a ser ocupada pelas primeiras residências, ganhando melhorias como o calçamento em pedra calcárea. Em 1858, houve uma proposta para a construção de um telheiro a fim de servir para a comercialização de peixes, mas não se sabe se a ideia foi concretizada. Em 1993, a Prefeitura de São Cristóvão e o Governo de Sergipe inauguram no antigo porto o Terminal Turístico Ecológico, espaço construído para receber um catamarã, que navegava do Mosqueiro, região litorânea que atualmente passa por disputa judicial entre São Cristóvão e Aracaju, mas na época pertencente a São Cristóvão.

Anos depois, a operação do catamarã foi impossibilitada devido à pouca profundidade do rio e o espaço dotado de um bar, um restaurante e pequenas residências de pescadores, o local teve um movimento turístico menor que o esperado. Porém, é um local muito frequentado pela comunidade, veranistas com fazendas e sítios na região, além de alguns turistas interessados em conhecer melhor a cidade. A vista do manguezal, das croas e parte da fauna são os grandes atrativos do local, especialmente acompanhadas pelos pratos regionais servidos no restaurante local. Peixes e crustáceos fritos, cozidos ou no pirão conquistam os visitantes pelo paladar.

O atracadouro, há meses atrás (foto: Cleverton Silva, 2008).

O mesmo atracadouro, em reforma recente (foto: Cleverton Silva, 2009).

Porto São Francisco

Rua Porto São Francisco com calçamento antigo (foto: Cleverton Silva, 2008).

O Porto São Francisco foi o mais movimentado, tanto para produtos quanto para o transporte de pessoas. Em 1838, o porto ganha calçamento. Pouco depois, em 1857 é apresentada uma proposta para a construção da Ladeira São Francisco, também servindo como elo de ligação com a parte alta da cidade, nas proximidades da Igreja Matriz Nossa Senhora da Vitória, sendo concluída em 25 de maio de 1859.

Atualmente, o porto recebe a atividade pesqueira, há também moradias no seu entorno, geralmente de pescadores. É neste porto que os pescadores e suas famílias celebram a única atividade festiva em seu calendário oficial, a procissão de São Pedro, padroeiro dos pescadores, sempre às tardes do dia 29 de junho. O porto fica ao fundo do Mercado Municipal e recebe a Colônia de Pescadores Z2, organização fundada na primeira metade do século XX.

Banca de venda de peixes, acima fica a sede da Colônia de Pescadores Z2 (foto: Cleverton Silva, 2008).

Pescador tece a sua rede, a sobrevivência está em função da arte (foto: Cleverton Silva, 2009).

Procissão fluvial dedicada a São Pedro no rio Paramopama, ano desconhecido (foto: acervo de Lauro Rocha).

Procissão de São Pedro, em 29 de junho de 2009, atualmente apenas por terra (foto: Cleverton Silva, 2009).


Porto das Salinas

Antigo Matadouro do Bairro Apicum-Merém, há indícios de que o Porto das Salinas ficava nas proximidades (foto: Cleverton Silva, 2008).

O Porto das Salinas, apesar de sugerir a realização de uma rentável atividade na região da Grande Aracaju no início do século XX, tinha por referencial o comércio exclusivo de pescados, até que no dia 5 de junho de 1848 uma Postura Municipal permitiu a venda de peixes nos portos do Coqueiro e da Ponte. As salinas abundavam por toda a região do Apicum-Merém, região da zona urbana próxima à Sede do município.

Imagem aérea da Cidade e entorno, ao fundo os rios Vaza-Barris e Paramopama; no canto superior direito, antigas salinas (foto: Marco Galvão, 2007).

Nos dias recentes, as antigas salinas são hoje viveiros de espécimes voltados ao mercado aquícola. As antigas salinas foram apontadas como alternativa econômica da região em resposta à crise no setor têxtil, que atingiu São Cristóvão entre os anos 1960 e 1970. O Apicum-Merém é fortemente marcado pela atividade pesqueira, muitos dos moradores e moradoras locais tiram sustento dos rios Paramopama e Vaza-Barris.

Estudar a atividade portuária em São Cristóvão é uma importante missão, pois é um tema rico e que não se esgota facilmete, além de comprovar ainda mais a importância das relações harmônicas entre seres humanos e todo o meio. O rio Paramopama é mesmo emblemático!

Nota: Colaboraram com informações Fábio André (blog Coisas de São Cristóvão) e Thiago Fragata (blog Cicerone de São Cristóvão)

Cleverton Silva.

2 comentários:

  1. Amigo Cleverton, "o porto não identificado" na primeira foto é o porto São Francisco.

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  2. oi, cleverton. gostaria de tirar umas dúvidas com você sobre os portos de são cristóvão. será que poderíamos conversar online por email?

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